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domingo, 27 de julho de 2008

TEIXEIRA - TOMBO HERÁLDICO (2)

5. Comentário:
No enquadramento em moldura rectangular e na forma de desenvolvimento do paquife há alguma semelhança entre esta pedra de armas e uma que se encontra em Paradela da Veiga e adiante será estudada. Sendo da mesma época, é natural que uma delas tenha inspirado a outra ou que tenham sido esculpidas pelo mesmo canteiro.
Mas as diferenças entre elas são também assinaláveis. A dimensão e proporções relativas do elmo são, neste caso, as ortodoxas e o tratamento do paquife, do timbre e de todas as peças e figuras do escudo demonstram uma qualidade de desenho bem mais apurada. O pormenor inesperado da aba protectora confere, aliás, a esta pedra uma originalidade digna de registo.
O timbre deveria ser um unicórnio sainte, ou seja, mostrando apenas a parte anterior do corpo. No entanto, ele aparece aqui deitado, numa posição que a iconografia deste feroz animal fabuloso — que só podia ser amansado e domesticado por uma virgem sem mácula — apresenta com alguma frequência (6). A posição do unicórnio e o seu apoio sobre a curvatura do elmo são particularmente expressivas.
A anomalia mais notável nesta pedra de armas é a localização da diferença. O Regimento e Ordenação da Armaria (7) determinava para a colocação das diferenças “... e serão postas na cabeça do escudo da parte da mão direita...”; por razões estéticas, admitia-se que essa colocação se fizesse no centro do chefe. Neste caso, num esquartelado, a diferença — a flor de lis — foi colocada no segundo quartel. É certo que esta posição era mais fácil, não obrigando a deformar peças como aconteceria se colocada no primeiro quartel. No entanto esta solução, não sendo singular, pode considerar-se excepcional.

6. Identificação da família:Um dos mais notáveis flavienses do século XVI foi Martim Teixeira, o velho, que viria a ser um dos principais progenitores da fidalguia transmontana dos séculos seguintes.
Martim Teixeira faleceu em 1557 e, tendo instituído uma capela, jazia na colegiada de Chaves em sepultura armoriada com as armas de Teixeira.
Do seu casamento com Francisca Rodrigues teve nove filhos de que ficou larga geração. Dois deles — Leonardo Teixeira e Isabel Gomes Teixeira — casaram, a troco, com filhos de Francisco da Costa Homem, fidalgo da Casa do Duque de Bragança e Alcaide Mor dessa cidade, e de sua mulher D. Catarina de Figueiredo.
Leonardo Teixeira, que foi chanceler da comarca de Chaves, casou com D. Antónia de Figueiredo; Isabel Gomes Teixeira casou com Fernão da Costa Homem, irmão portanto de sua cunhada. Estes dois casais tiveram muita descendência, entre a qual as famílias Teixeira Homem, Teixeira de São Paio, Leite Chaves, Teixeira de Magalhães, Moraes Castro, Costa Homem e Pereira do Lago.
Esta pedra de armas da Rua Direita só pode ter sido mandado gravar por um descendente de um destes dois casais. Não se conhece carta de brasão que lhe diga respeito. Nestas circunstâncias, e na impossibilidade de encontrar documento ou registo da construção da casa, a identidade de quem mandou gravar a pedra apenas poderá ser deduzida através da heráldica, da genealogia e da cronologia.
O facto de terem sido colocadas as armas de Teixeira nos 1º e 4º quartéis e a opção pelo timbre dos Teixeira leva a crer que esse apelido vinha por varonia.
A escolha da diferença, por sua vez, indicia que as armas vinham por pai e avô paterno (8). Tratar-se-ia pois de um descendente de Leonardo Teixeira, por varonia. Sabe-se que este terá nascido cerca de 1519 e vivia ainda em 1592 (9). Uma vez que a pedra data do século XVII é muito provável que tenha sido um seu neto ou bisneto quem ordenou a gravação.
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6 Alain Erlande-Brandenburg, La Dame à la Licorne, Ed. de Ia Réunion des Musées Nationaux. Paris, 1985.Rodney Dennys, The Heraldic Imagination. Ed. Barrie & Jenkins. London, 1975.
7 Conde de São Paio, op. cit., pág. 119.
8 Conde de São Payo, op. cit., pág. 70.
9 Luís de Meio Vaz de São Payo, A Família Coelho de Campos, Oficializada pelo Santo Ofício, in Armas e Trofmus, VI Série, tomo IV. Lisboa, 1992.

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