BOAS VINDAS

Benvindos a este espaço! Esta é uma página estritamente familiar, aberta a todos aqueles, familiares ou não, que de alguma forma queiram contribuir com o que sabem e conhecem ou simplesmente tenham meras curiosidades e questões que pretendam levantar. Tudo o que diga respeito ou se relacione com a família do meu pai ou da minha mãe, será sempre objecto da minha atenção.

sábado, 31 de março de 2007

CASA DE SAMAIÕES - GERAÇÕES QUE A HABITARAM (VIII)

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O vínculo da Casa de Samaiões é de 1500 e, a sua documentação revela ligações à Casa de Santa Catarina (Morais Castro Chaves Pimentel), ao Palácio Arrochela em Guimarães (Castro Almeida Sodré), à Casa de Quiraz em Vinhais (Morais Lozada), à Casa da Calçada na Régua (Lacerda), à Casa de Bóbeda (Quevedo Pizarro), à Casa da Lâncara em Lugo (Yebra e Oca), à Casa de Vilar de Perdizes (Sousa Pereira Coutinho), à Casa de Eiriz (Madureira Lobo da Silveira), aos solares da Penaventosa e Agrelos em Baião (Ferreira Cabral e Ferreira Cabral Teixeira Homem), entre outras

Habitaram, a Casa de Samaiões, diversas gerações de ilustres membros da família Teixeira Homem que, ao longo dos tempos, ocuparam cargos públicos de relevo local e mesmo Nacional.

Já no século XVI, Leonardo Teixeira foi chanceler da correição da Comarca de Bragança. Casou com D. Antónia de Figueiredo, filha de Francisco da Costa Homem, alcaide-mor de Outeiro.

Seu filho, Martim Teixeira Homem, foi brigadeiro de infantaria. Em 1618 participou nas cortes como procurador da vila de Chaves. Por testamento, elaborado em de 7 de Fevereiro de 1598, instituiu o vínculo do Ginzo de Curalha, próximo de Chaves, cujo primeiro administrador viria a ser seu filho Leonardo Teixeira Homem, e segunda, sua neta Dª Maria Teixeira de Morais.

Esta última, viria a casar, em primeiras núpcias, com António de Araújo Chaves, instituidor do vínculo dos Araújos e, em segundas núpcias, em 1630, com Gaspar de Magalhães Fontoura, capitão-mor da vila de Chaves.

Deste último casamento, entre outros filhos, teve Dª Filipa de Morais Teixeira, que casou com Francisco de Araújo Chaves, licenciado pela Universidade de Coimbra. Sucederia a estes D.ª Jerónima de Morais Araújo, que viria a casar com Nicolau Ferraz Mourão, procurador em cortes pela vila de Chaves.

A sua filha, D.ª Jerónima de Morais, casou com João de Barros Pereira do Lago, senhor da Casa de Quiraz do extinto concelho de Lomba, onde nasceu em 1678. Filho de Pedro Rodrigues de Morais, capitão-mor do referido concelho, foi tenente coronel de cavalaria.
Nesta mensagem, Alexandra Moura chama a atenção para o nome completo de João de Barros Pereira do Lago Lozada de Moraes, 1º Senhor da Casa de Vedoria

Destes nasceria Francisco de Barros de Morais Araújo Teixeira Homem, senhor da Casa de Samaiões, onde nasceu, e da Casa de Quiraz. Foi 8° administrador do morgado dos Araújos e 9° do vínculo do Ginzo de Curalha. Foi capitão-mor do extinto concelho de Lomba, fidalgo cavaleiro da Casa Real, governador da Ilha de Santa Catarina (por decreto de 23 de Setembro de 1778) e marechal de campo dos exércitos reais (por decreto de 3 de Fevereiro de 1791).

Do seu casamento com D.ª Luisa Joaquina de Arrochela de Castro de Almada e Távora, realizado em 17 de Outubro de 1745, viria a nascer, em 21 de Agosto de 1758, Joaquim Teixeira de Barros de Araújo Lousada. Foi senhor das casas de Samaiões e de Quiraz, 9° administrador do morgado dos Araújos e 10° do do Ginzo de Curalha. Tenente coronel do Regimento de Milícias de Chaves, casou, em 4 de Dezembro de 1799, com Dª Maria Bárbara Damasceno de Sousa Pereira Coutinho Yebra e Oca.

Entre outros filhos, tiveram Francisco de Barros Teixeira Homem (alferes de cavalaria do exército e coronel honorário dos batalhões nacionais), João de Barros Teixeira de Sousa (bacharel em leis e juiz de fora em Porto de Moz), António de Barros Teixeira e Sousa Zebra (recebedor particular do concelho de Chaves, recebedor geral das rendas do almoxarifado de Chaves, administrador do concelho de Chaves e presidente da câmara municipal de Chaves) e D.ª Luisa Adelaide de Sousa e Barros.

Esta última viria a casar, em 28 de Agosto de 1822, com Joaquim Ferreira Cabral Pais do Amaral, brigadeiro do exército, da arma de cavalaria, condecorado com a medalha das campanhas da guerra peninsular. Deles viria, em 16 de Março de 1835, Manuel de Barros Ferreira Cabral, que foi procurador à Junta Geral de Distrito de Vila Real.

Do casamento, deste último, com D.ª Maria Leonor Pais de Sande e Castro, viria a nascer, na Casa de Samaiões, em 27 de Julho de 1889, o meu avô Francisco de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem que, entre outros cargos de relevo, desempenhou funções de vereador da Câmara Municipal de Chaves.

Do casamento com Maria da Assunção de Abreu Castelo-Branco nasceram 8 filhos, 4 rapazes e 4 raparigas, sendo o mais velho, Manuel de Barros de Morais Lozada Teixeira Homem que é meu pai.

Do casamento deste com Maria Iolanda Seixal de Freitas nasceram 5 filhos, dos quais o mais velho sou eu: Francisco de Barros e Freitas Ferreira Cabral Teixeira Homem.





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CASA DE SAMAIÕES - DESCRIÇÃO DOCUMENTAL DO ARQUIVO (VII)

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PT/ADVRL/FAM/FTH
Título
Família Teixeira Homem,
Data de produção
1472 - 1974
Dimensão
938 (924 Ds + 14 Dc)
Nome do produtor
Família Teixeira Homem.
História
(Ver Histórico da instituição).
Fonte imediata de aquisição
Documentação doada por António de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem. em 2000110/20 (incorporação 3/2000) e 2003/08/13 (incorporação 9/2003).
Âmbito e conteúdo

Documentação relativa à organização e constituição da família, à sua gestão patrimonial e financeira, e ainda relativamente a actividades individuais, nomeadamente cartas de legitimação; certidões de escrituras de perfilhação: certidões de processos de inquirição de genere. certidões de processos de justificação de nobreza: certidões de registo de baptismo. casamento e óbito: declarações de ausência de descendentes; licenças para contrair matrimónio: notas, rascunhos e
apontamentos biográficos; notas. rascunhos e apontamentos genealógicos: certidões de autos, sentenças e processos judiciais; certidões de escrituras de cedência; certidões de escrituras de emprazamento; certidões de escrituras de obrigação: certidões de missas: certidões de notificações; certidões relativas a vínculos: contratos de arrendamento: declarações de compromisso: licenças: louvações de prazos, foros e propriedades; notas, rascunhos e apontamentos: pareceres e alegações jurídicas; procurações: provisões: réis e inventários de bens: tombos; declarações de permuta; declarações de venda: certidões de autos e sentenças de arrematação: certidões de escrituras de compra e venda: certidões de escrituras de contratos esponsalícios; certidões de escrituras de doação; certidões de escrituras de dote: certidões de escrituras de permuta; certidões de escrituras de transacção e amigável composição: certidões de sentenças de sorte: testamentos: certidões de escrituras de pagamento e quitação; certidões de justificação de contas: contas correntes: declarações de quitação: facturas e recibos: registo de despesas: registo de pagamento de foros, rendas e pensões: recibos de pagamento de impostos; documentos pessoais como notas, rascunhos e apontamentos. passaportes e procurações: documentos de função pública como alvarás, bulas, cartas de louvor, cartas de mercê, cartas de padrão, cartas-patente. certidões de serviço militar, certificados de habilitações, diplomas de nomeações, diplomas de privilégio, documentos relativos a actividades profissionais. licenças, provisões, requerimentos: documentos de função privada como cartões de sócio, correspondência
recebida e rascunhos de correspondência expedida.
Organização

Classificação orgânico-funcional e ordenação cronológica.
Estatuto legal
Documentação pública após doação.
Idioma
Inclui documentos em castelhano. - -
Auxiliares de pesquisa
Catálogo Arqhase nível 5.0.
Notas
5 documentos são mistos.

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CASA DE SAMAIÕES - ARQUIVO DOCUMENTAL (VI)

Um arquivo de família não é mais do que um conjunto de documentos acumulados num processo natural, ao longo dos tempos, pelos elementos de uma família, no desempenho das suas actividades quer públicas quer privadas, e por eles conservados com o objectivo de servir de testemunho, informação ou fonte histórica.

O ambiente doméstico em que este processo de acumulação se verifica, com as vicissitudes que lhe são intrínsecas, nomeadamente a exiguidade e o sucessivo aproveitamento dos espaços da casa, a sucessão de diversas gerações com diferentes sensibilidades face à documentação acumulada, são factores que propiciam a desorganização dos espólios documentais. Em consequência, são hoje raros os casos de arquivos de família que conservam uma organização reflexo do processo natural de acumulação.

A organização destes acervos documentais implica procedimentos técnicos similares aos utilizados, em tal tarefa, em qualquer outro tipo de arquivo. Contudo, os arquivos de família patenteiam determinadas características, especificidades, que tendem a tornar a sua organização num processo um tanto complexo.

A grande heterogeneidade que caracteriza os arquivos de família, divergindo fortemente, entre si, tanto em termos de tipologias como de volumes documentais por um lado, e a forte presença de documentos desprovidos de elementos essenciais à sua eficaz classificação e ordenação, por outro, constituem obstáculos de monta que o arquivista tem de superar.

A correspondência, as notas, os rascunhos, os apontamentos, as contas, os inventários, os róis, etc., são tipologias documentais que marcam forte presença neste tipo de acervos e cuja produção não obedece a normas rígidas, preestabelecidas. Surgem, por isso, frequentemente desprovidos de elementos vitais como sejam o local e a data de produção, a identificação do produtor, do destinatário, etc.

Por outro lado, organizar arquivos de família é, predominantemente, organizar peças documentais avulsas, o que representa, frequentemente, dificuldade acrescida. Tais documentos, quando “mexidos” sem o cuidado devido prestam-se, facilmente, à desorganização. Restituir-lhes a organização original torna-se, por vezes, tarefa difícil, senão mesmo impossível.

Organizar um arquivo de família, aliás como organizar qualquer outro tipo de arquivo, implica uma serie de operações quer intelectuais quer físicas envolvendo a analise estruturação e ordenação do material arquivístico Duas operações são contudo vitais a classificação e a ordenação

A Classificação e a operação de organização dos documentos da sua separação por classes, reflectindo, tanto quanto possível, a estrutura e funções/actividades da entidade produtora, neste caso, a família.

Como noutro tipo de arquivos, também nos arquivos de família, se pode recorrer a dois métodos de classificação: à priori ou à posteriori. Em qualquer dos casos, é inevitável o recurso a quadros/tabelas de classificação.

No processo de organização do Arquivo da Casa de Samaiões, optámos pela primeira via, recorrendo ao quadro de classificação proposto na publicação “Arquivos de Família: Organização e Descrição “.

Em tal plano, são propostas cinco secções: Uma primeira que pretende aglutinar toda a documentação relativa à “organização e constituição” da família, nomeadamente documentos genealógicos, catálogos e inventários de documentos, registos de documentação alienada ou transaccionada, etc.; uma segunda relativa à “gestão patrimonial” englobando documentação relativa à posse e administração de propriedades (autos de posse de bens, foros, prazos, registos de propriedades, róis e inventários de bens, etc.), e ainda documentação relativa à transacção e transmissão de bens (doações, escrituras de arrematação, de compra e venda, de partilhas de bens, de permutas, etc.); uma terceira secção relativa à “gestão financeira”, englobando documentação de contabilidade (receitas e despesas, orçamentos, recibos, etc.), documentação relacionada com empréstimo de capitais (escrituras de empréstimo, quitação de dívidas, pagamento de juros, etc.) e documentação relativa a impostos; uma quarta secção que aglutina toda a documentação relativa às “actividades individuais”, contemplando tantas subsecções quantos os elementos da família produtores/receptores de documentação e, finalmente, uma quinta secção relativa ao coleccionismo, actividade frequentemente representada neste tipo de arquivos.

Tal plano, prevê assim secções intimamente relacionadas tanto com aquilo que são as actividades fundamentais de uma família (a gestão do património e a gestão financeira), como relacionadas com a sua estrutura (actividades individuais e organização e constituição).


A ordenação dos documentos poderá reger-se por critérios como o cronológico, o alfabético (nominal, geográfico, temático, etc.), o numérico ou o hierárquico. Caberá ao arquivista a opção pelo critério, ou critérios, apropriados à realidade com que lida.

No caso concreto dos arquivos de família, os critérios cronológico e alfabético são os de mais vulgar utilização, havendo mesmo casos em que a sua conjugação se revela vantajosa.

Nos arquivos de família nota-se a predominância, e em alguns casos mesmo a
exclusividade, de um fundo documental, o da família que produziu e recebeu a documentação acumulada. Não são, contudo, raros os casos de arquivos de família detentores de documentação com proveniência diversa à própria família. Veja-se o caso de livros de actas de confrarias, livros paroquiais e por vezes mesmo livros notariais que, por força de actividades exercidas por membros da família, acabam por ficar depositados no seu arquivo, de uma forma mais ou menos acidental.

Fruto das diversas vicissitudes por que este tipo de arquivos, nomeadamente as decorrentes da união de famílias diversas pelo casamento, pode conduzir à presença de documentação de diversas famílias num mesmo arquivo.

Forte presença neste tipo de acervos marcam, sem dúvida, as colecções, podendo estas assumir as mais variadas formas. Tais colecções resultam de uma actividade, o coleccionismo, praticada por elementos de determinada família, pelo que devem ser encaradas, neste contexto específico, como parte integrante do seu fundo documental. Não é mesmo de excluir a possibilidade de determinado arquivo, deter documentos manuscritos que foram coleccionados. .

O princípio do respeito pela integridade dos fundos documentais prevê que estes devam permanecer indivisíveis. Na prática, o respeito por tal princípio implica que a documentação produzida e recebida por determinada família, no normal desempenho das suas actividades, permaneça junta, constituindo uma unidade indivisível.

Situações de partilhas, casamentos, a grande mobilidade, em termos geográficos, que certas famílias patenteiam, são factores que frequentemente comprometem a indivisibilidade dos fundos documentais de famílias.

O êxito da organização de um arquivo de família e a correcta aplicação dos princípios enunciados depende, como é óbvio, e de forma directa, do êxito obtido na realização do estudo da entidade produtora da documentação, ou seja, da família.

Uma vez organizado, o arquivo deverá ser instalado garantindo a sua preservação e facilitando o acesso aos documentos.

O fundo documental da família Teixeira Homem, em termos gerais, encontra-se em aceitável estado de conservação. No entanto, tal como seria de esperar, alguns documentos sofreram os efeitos de um prolongado período de exposição a um ambiente hostil, demasiadamente húmido e com amplitudes térmicas consideráveis, provocando em parte da documentação mais antiga o desenvolvimento de agentes químicos de destruição, agravados por alguns outros de ordem biológica, como sejam as pragas de bibliófagos. Alguns documentos evidenciam ainda danos de ordem mecânica, frequentemente resultado do seu deficiente manuseamento e acondicionamento.

Por seu lado, no processo de descrição, preconiza-se a representação de uma unidade arquivística e das suas partes componentes, pela recolha, análise e organização de informação, que identifique o material arquivístico e explique o seu contexto, bem como o sistema de arquivo que lhe deu origem.

A presente descrição do Arquivo da Casa de Samaiões, foi realizada atendendo aos preceitos inscritos na ISAD(G) e em plena observância às regras de descrição multinível, nomeadamente: descrição do genérico para o específico, informação relevante para o nível de descrição, ligação entre as descrições, não repetição de informação e obrigatoriedade de indicação do nível de descrição.

Um arquivo de família devidamente organizado e convenientemente descrito, atendendo aos preceitos inscritos na ISAD(G), pode assumir-se como uma fonte de inegável valor quer para a história local, quer mesmo para a história nacional. Não esqueçamos, que neste tipo de arquivos, repousa uma significativa massa de documentos produzidos à margem das formalidades que enformam a documentação oficial. Tais documentos, permitindo mesmo, em certos casos, a reconstituição da vida quotidiana das famílias ao longo das diversas gerações, do seu sentir, da sua maneira de estar, enfim, das suas paixões, constituem um precioso auxilio para a história económica, social, cultural e das mentalidades.

O Arquivo da Casa de Samaiões é uma prova disso mesmo assumindo particular relevância quer pela sua cronologia quer pelo seu valor informativo. Constituído por 938 documentos, dos quais 924 são documentos simples e 14 documentos compostos, ilustra a evolução da família que lhe deu origem, a família Teixeira Homem, no período cronológico compreendido entre 1472 e 1974.

Uma carta de venda datada de 16 de Julho de 1472, constitui o seu documento mais antigo.

(parte retirada do "Arquivo da Casa de Samaiões - Catálogo -pag. 13-18)

CASA DE SAMAIÕES - ARQUIVO DOCUMENTAL (V)


O Arquivo Distrital de Vila Real, subordinado administrativamente ao Ministério da Cultura e ao Instituto dos Arquivos Nacionais Torre do Tombo, publicou em 2006 o livro "Arquivo da Casa de Samaiões - Catálogo", elaborado por Manuel Silva Gonçalves e Paulo Mesquita Guimarães, numa edição do ADVR (ISBN:972-9022-26-7).
A organização dos documentos, está feita de acordo com o seguinte Quadro de Classificação:

Fundo - Família Teixeira Homem
A - ORGANIZAÇÃO E CONSTITUIÇÃO

001 — Cartas de legitimação
002 — Certidões de escrituras de perfilhação
003 — Certidões de processos de inquirição de genere
004 — Certidões de processos de justificação de nobreza
005 — Certidões de registo de baptismo
006 — Certidões de registo de casamento
007 — Certidões de registo de óbito
008 — Declarações de ausência de descendentes
009 — Licenças para contrair matrimónio
010 — Notas, rascunhos e apontamentos biográficos
011 — Notas, rascunhos e apontamentos genealógicos

B - GESTÃO PATRIMONIAL

AI POSSE E ADMINISTRAÇÃO DE PROPRIEDADES
001 — Certidões de autos, sentenças e processos judiciais
002 — Certidões de escrituras de cedência
003 — Certidões de escrituras de emprazamento
004 — Certidões de escrituras de obrigação
005 — Certidões de missas
006 — Certidões de notificações
007 — Certidões relativas a vínculos
008 — Contratos de arrendamento
009 — Declarações de compromisso
010 — Licenças
011 — Louvações de prazos, foros e propriedades
012 — Notas, rascunhos e apontamentos
013 — Pareceres e alegações jurídicas
014 — Procurações
015 — Provisões
016 — Róis e inventários de bens
017 — Tombos

B - TRANSACÇÃO E TRANSMISSÃO DE BENS
001 — Declarações de permuta
002 — Declarações de venda
003 — Certidões de autos e sentenças de arrematação
004 — Certidões de escrituras de compra e venda
005 — Certidões de escrituras de contratos esponsalícios
006 — Certidões de escrituras de doação
007 — Certidões de escrituras de dote
008 — Certidões de escrituras de permuta
009 — Certidões de escrituras de transacção e amigável composição
010 — Certidões de sentenças de sorte
011 — Testamentos

C - GESTÃO FINANCEIRA
A - CONTABILIDADE
001 — Certidões de escrituras de pagamento e quitação
002 — Certidões de justificação de contas
003 — Contas correntes
004 — Declarações de quitação
005 — Facturas e recibos
006 — Registo de despesas
007 — Registo de pagamento de foros, rendas e pensões

B - IMPOSTOS
001 — Recibos de pagamento de impostos

D - ACTIVIDADES INDIVIDUAIS

A/... Y (ELEMENTOS DA FAMÍLIA)
A - Documentos pessoais
001 — Notas, rascunhos e apontamentos
002 — Passaportes
003 — Procurações
B - Documentos de função pública
001 — Alvarás
002 — Bulas
003 — Cartas de louvor
004 — Cartas de mercê
005 — Cartas de padrão
006 — Cartas-patente
007 — Certidões de serviço militar
008 — Certificados de habilitações
009 — Diplomas de nomeação
010 — Diplomas de privilégio
011 — Documentos relativos a actividades profissionais
012 — Licenças
013 — Provisões
014 — Requerimentos
C - Documentos de função privada
001 — Cartões de sócio
002 — Correspondência recebida
003 — Rascunhos de correspondência expedida

Manuel José da Veiga e Silva Gonçalves (Director do ADVR) descreve a presente publicação como uma integração no projecto arquivístico no sentido do seu reconhecimento, descrição e preservação dos Arquivos Transmontanos e Durienses, públicos e privados. O património arquivístico agora revelado, refere o autor, integra-se nos objectivos de colocar à disposição da comunidade científica, estudantes e público em geral, os numerosos e valiosos acervos documentais produzidos na Região, que constituem, sem dúvida, fontes indispensáveis ao conhecimento histórico local e geral e nos ajudam a compreender a identidade cultural dos Transmontanos e Durienses.

A sensibilidade cultural dos proprietários e o interesse pela conservação, preservação
e valorização do seu património possibilitou um contacto privilegiado com o Arquivo Distrital e o desenvolvimento de um programa de salvaguarda que conduziu à catalogação do seu valioso fundo arquivístico.

Com o presente trabalho, salvámos uma importante fonte histórica de Trás-os-Montes, facilmente legível e acessível, constitui e representa um serviço à arquivística, à historiografia moderna e contemporânea.

Organizado e criteriosamente catalogado, o Arquivo da Casa de Samaiões, a partir de
agora, disponível para consulta, vai possibilitar à comunidade científica e aos estudiosos em geral, o arranque de novos estudos virados para a Região.

Por seu lado, António Teixeira Homem, que doou este fundo documental, possibilitando o acesso público à história da família, garantindo a sua conservação e preservação para o futuro, refere também que, a documentação da Casa de Samaiões permanece em razoável estado de conservação, o que pressupõe séculos de cuidado com que as diversas gerações da família Teixeira Homem a brindaram,




sexta-feira, 30 de março de 2007

CASA DE SAMAIÕES (IV)

Tentarei, tanto quanto possível, percorrer a Casa de Samaiões por dentro e por fora, descrevendo e historiando cada uma das divisões.
Neste capítulo, procurarei apenas fazer uma descrição breve que dê uma imagem mais ou menos global deste solar e só depois, iniciar a parte mais descritiva das suas divisões.

Como se viu, a entrada era feita por um enorme portão em pedra onde se iniciava uma avenida, ladeada por uma mata de pinheiros à direita de quem desce e terreno de lavradio à esquerda.
Em frente à casa, os jardins eram o primeiro plano de uma extensão de terreno de lavradio e pasto que circundava praticamente toda a Casa. A eira ficava em frente das oficinas e garagem.

Circunscrito por um muro que ladeava toda a casa, podíamos encontrar 2 pátios. No primeiro pátio com saída directa da cozinha, de escritório e da casa de serventia, havia um lago com um pequeno repuxo, ladeado pelas entradas para a adega e as vacarias. Por cima da saída do escritório, lembro-me de um pombal com pombas de leque. As janelas dos quartos do primeiro andar, davam todos para esse pátio.

O acesso ao segundo pátio, tinha um soleiro com um forno de lenha enorme à esquerda.
Neste segundo pátio, para além de mais uma vacaria, onde também se guardavam as ovelhas, havia ainda um alambique, uma pocilga, capoeiras, salas de gado, e creio que um espaço coberto para secagem de milho (?)

Dentro da casa, com tectos de maceira, na sala de entrada, existia uma panóplia grande com armas de diferentes espécies, dois contadores sobre pés torneados (séc. XVIII) e uma vitrina que guardava o vestido de noiva da trisavó Bárbara em estilo império, um vestido de baile, uma faixa de Presidente da Câmara de Chaves, pertencente a Francisco de Barros Morais Losada Teixeira Homem, e peças de loiça Companhia das Índias, com o brasão dos Sande e Castro. Nas paredes estavam pendurados os retratos do avô, da avó, da tia Maria e do pai, pintados por Alves Cardoso. Havia naquela sala mais dois retratos: um do bisavô António Paes de Sande e Castro e outro de Joaquim Ferreira Cabral Paes do Amaral (1770-1845) pai do avô Manuel de Barros, pintado pelo Sr. Pe. Silvino da Nóbrega
A casa possuía três fogões de sala, um na casa de jantar, outro no salão e finalmente outro na biblioteca.
No salão podia ver-se um belíssimo piano de cauda e dois quadros pintados, em tamanho natural, de António Paes de Sande e de sua mulher D. Catharina Sotomaior de Castro, casados em 1645.
O “quarto do Bispo”, mesmo ao lado, apresentava uma imponente cama de bilros.
A sua biblioteca era considerada das mais importantes da região, a nível particular. A variedade de temas era grande , possuindo também a obra completa do Abade de Baçal. Os manuscritos constituíam uma valiosa colecção e alguns eram datados do século XV.
Estão presentemente no Arquivo da Biblioteca Municipal de Vila Real.
A Cozinha era enorme, com um alpendre onde cabia um caldeirão sempre com água quente em fogueira.
A "salinha" era onde podiamos encontrar os retratos de familiares mais próximos, das gerações mais novas, era onde se tomava o chá e onde o meu avô tinha o cofre onde guardava os "tostões" com que nos pagava o serviço de recolha das pinhas para a lareira.
Em baixo, havia ainda duas casas de banho, um quarto de serventia e um enorme corredor que atravessava a casa em toda a sua largura, no meio do qual ficavam as escadas de acesso ao piso superior que "abrigavam" a mesa do telefone.
A capela encontrava-se precisamente no lado oposto à biblioteca.
Na parte superior, havia 5 enormes quartos e um enorme sótão de arrumos, também ele praticamente do tamanho da frente da casa.
Do lado da capela, havia ainda um piso superior com um pequeno pátio a que se chamava o limoeiro por ter um limoeiro, a chamada "sala velha" e um outro quarto, o "chamado quarto do Capelão".
Por trás destas divisões, encontráva-se um enorme tanque exterior em pedra, com um telheiro e uma fonte, muito utilizado para lavagens domésticas

quinta-feira, 29 de março de 2007

ABADE DE BAÇAL

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Numa justa homenagem ao padre Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, Henrique Salles da Fonseca volta uma vez mais a surpreender-me com um diálogo, a determinada altura, entre o referido abade e a minha avó paterna Maria D´Assunção d`Abreu Castelo Branco, durante um almoço na enorme sala de jantar da Casa de Samaiões, onde o senhor abade terá pernoitado.
Para quem como eu conheceu a minha avó, a delícia deste diálogo torna-se muito mais enternecedor e próximo se conseguirmos aliar a esse diálogo a sua imagem de enorme doçura, trato refinado e aquele sorriso ligeiro mas permanente com que sempre se relacionou com quem quer que fosse.
É de facto, reviver um passado algo distante e saudoso mas sempre vivo. São referências extremamente gratificantes que me fazem voltar atrás e reviver parte desse meu passado mas, principalmente, por verificar que o Henrique era um amigo e conhecedor de um dos ramos da família que me deu o berço. Para ele, um enorme abraço e um não menos pequeno OBRIGADO.

"Oiçam-nos":

"Personagens da cena que segue, ocorrida em Novembro de 1930:

1 - Maria d’Assumpção d’Abreu Castelo Branco (1892-1972), filha dos Condes de Fornos d'Algodres, casada com Francisco de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem (1889-1966), proprietário da Casa de Samaiões, Concelho de Chaves, local da cena;
2 - Padre Francisco Manuel Alves (1865-1947), Abade de Baçal


Interior da Casa de Samaiões, actualmente uma unidade de turismo rural
À mesa do almoço, a dona da casa deu a sua direita ao convidado especial e, após o agradecimento, deu-se início à conversa:

- Hoje sucederam-me três coisas pela primeira vez.
- E que coisas foram, Senhor Abade?
- A primeira foi que me lavei duas vezes.
- Mas estava assim necessitado de tanta lavagem?
- Não, não. É que a certa altura da noite acordei e vi uma luz tão magnífica que julguei ser dia. Levantei-me, lavei-me e arranjei-me para começar o dia mas quando ia a sair do quarto, olhei melhor pela janela e foi então que vi um luar tão brilhante que me pôs na dúvida das horas. Olhei para o relógio e vi serem ainda 4 da manhã. Voltei a deitar-me e pelas 7 levantei-me, lavei-me de novo e comecei mesmo o dia que já despontara de verdade. Assim foi que hoje me lavei duas vezes.
- E qual foi a segunda novidade que hoje lhe aconteceu, Senhor Abade?
- Dormi com uma colcha de damasco.
- Mas, Senhor Abade, cá em casa sempre assim fazemos as camas: sobre as cobertas temos sempre uma colcha para afagar a rudeza das lãs.
- Pois foi esta a primeira vez que não senti a rudeza das lãs.
- E isso perturbou-lhe o sono, Senhor Abade?
- Ah! Claro que não, dormi lindamente até que vi a tal luz que me fez levantar.
- Estimo que se tenha sentido confortável. E qual foi a terceira coisa que lhe sucedeu hoje pela primeira vez?
- Na Celebração, fui acolitado por um fidalgo.
Capela da Casa de Samaiões
Na verdade, o anfitrião fazia questão de ajudar à missa sempre que ela era celebrada em sua casa e, daí, o facto de o Abade de Baçal ter sido acolitado por um fidalgo." (...)



terça-feira, 27 de março de 2007

CASA DE SAMAIÕES - O BRASÃO (III)


"Classificação: heráldica de família.

Localização: Quinta de Samaiões

Datação: Século XIX(?)

Descrição heráldica:
- escudo: francês
- composição: aquartelado
- leitura:
I- três bandas acompanhadas de nove estrelas
de seis raios, postas 2, 3, 3, 1;
II - aspa carregada de cinco besantes;
II - cruz potenteia e vazia;
IV- seis crescentes, postos 2, 2, 2.

São as armas das famílias:
I — BARROS De vermelho, com três bandas de prata, acompanhadas de nove estrelas de seis pontas de oiro, postas 1,3,3,2.

II — ARAÚJO De prata, uma aspa de azul carregada de cinco besantes de oiro postos em aspa.

III— TEIXEIRA De azul uma cruz de oiro potenteia e vazia.

IV — HOMEM De azul com seis crescentes de ouro postos alinhados em 2 palas de 3 e 3.

Timbre: o dos BARROS aspa de vermelho carregada de cinco estrelas de ouro.

Comentário: O desenho e execução desta pedra de armas é de grande sobriedade e perfeição, sendo de destacar a ausência dos habituais paquife e virol. Nas armas dos BARROS a pedra apresenta uma disposição das estrelas que não é a considerada mais ortodoxa. Essa pequena diferença, porém, não tem qualquer importância podendo dever-se a dificuldades de execução do canteiro, em face do espaço disponível.

Identificação da família:
A família Barros, de Samaiões, é uma das mais ilustres da região flaviense estando ligada há mais de quinhentos anos aos principais acontecimentos da sua História.

Os actuais representantes desta família descendem de famílias titulares como os Viscondes de Asseca e os de Vila Nova de Cerveira, os Condes de Avintes, os de Fornos de Algodres e os de São Payo, os marqueses de Lavradio e os de Pombal.
O representante da família na primeira metade deste século era o Dr. Francisco de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem - meu avô, erudito arqueólogo e distinto investigador da História de Chaves.

A sua genealogia ascendente e descendente corre impressa em diversas obras de que adiante se dará notícia, algumas das quais estão acessíveis em bibliotecas e livrarias. Não importando por isso repeti-la aqui, referir-se-ão apenas alguns dados mais significativos.

A varonia actual desta família é Ferreira Cabral, da Casa de Penaventosa, em Campelo, Baião, pelo casamento em 1822 da herdeira da Casa, SrªDª Luísa Adelaide de Sousa e Barros com o Brigadeiro de Cavalaria Joaquim Ferreira Cabral Pais do Amaral, Fidalgo cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Aviz e combatente distinto da Guerra Peninsular.

Dª Luísa Adelaide era filha do Tenente Coronel de Milícias de Chaves Joaquim Teixeira de barros de Araújo Lousada, Fidalgo-cavaleiro da Casa Real e senhor das Casas de Samaiões e dos Teixeira Homem em Chaves, 10º Administrador do vínculo de Nossa Senhora da Conceição do Ginzo de Curalha e 9º Administrador do vínculo dos Araújo, em Chaves e de de sua mulher Maria Bárbara Damasceno de Sonsa Yebra y Oca, filha esta de Alexandre de Sousa Pereira Coutinho, morgado de Vilar de Perdizes.

O Tenente Coronel de Milícias era filho do Marechal de Campo Francisco de Barros de Morais Araújo Teixeira Homem, Capitão Mor de Lomba, Governador da Ilha de Santa Catarina, Fidalgo-cavaleiro da Casa Real e cavaleiro professo da Ordem de Cristo a quem, em tempo oportuno, dedicarei uma parte da minha atenção.

Por esta linha descendem os Barros Teixeira Homem, de Samaiões, de todas as principais famílias flavienses dos séculos XV a XVIII, como Teixeiras, Castros, Morais,Pimentel, Pequeno, Araújo, Magalhães, Fontoura e Leite.”

J.G. Calvão Borges, In Revista , Aquae Flaviae, nº9 de Junho de 1993. Editada por Grupo CulturalAquae Flaviue

segunda-feira, 19 de março de 2007

A CASA DE SAMAIÕES (II)


Infelizmente, não tenho tantas fotografias como aquelas que desejava ter para poder ilustrar a casa onde a minha família paterna nasceu, cresceu e foi educada.
Acredito que depois de iniciar este Blog, consiga encontra mais documentação. Primeiro, porque a motivação para a procurar é maior e depois porque a troca de ideias e de comunicação será igualmente mais regular e assídua.
Será sempre um espaço em aberto, ainda que o tempo não me ajude e possa ir completando este assunto em conformidade com o que for recolhendo, isto é, aos soluços.
Neste capítulo, começo por me referir à entrada. A Casa de Samaiões tinha um enorme pórtico com uma porta em ferro, enquadrada por um enorme muro em pedra, a partir da qual se iniciava uma "avenida" em direcção ao solar.

Quem vinha de Chaves, teria de entrar no Pórtico, virando à esquerda, mas se seguisse em frente iria ter à Quinta de Paradela.
Recordo que em tempos, a Casa Barros, de Chaves, possuía ainda para além da Quinta de Paradela, de Casas Novas - onde existe uma série de sobreiros - Quinta da Pastoria, a Quinta das Caldas - que foi expropriada, em parte, para se construir a ponte perto das águas termais. No concelho de Baião há que acrescentar a Quinta de Cedofeita

Quem descia essa avenida, encontrava à sua direita uma enorme mata de Pinheiros que, no verão, dava sempre um enorme prazer de frescura e bem estar pelo seu cheiro a natureza e onde, íamos apanhar, com uma enorme cesta, pinhas secas para as lareiras, muitas vezes aliciados sempre pelo meu avô Francisco com uma moeda: Queres uma moeda preta ou uma branca?

Nesta imagem que anexo de 1990, onde o meu filho Nuno Miguel, ainda pequeno, se passeia a cavalo, atentamente observado pelo meu tio e padrinho, António de Barros, consegue-se perceber a mata que refiro e a avenida de separava o pórtico de entrada da casa, mais propriamente da capela que era a primeira esquina da casa a surgir.
Nessa altura, este meu tio, o mais caçula dos irmãos e 7º na descendência, que foi sempre um enorme aficionado por cavalos, tinha conseguido montar um picadeiro na zona das adegas o que, foi para o Nuno Miguel que, nessa altura, já dava os primeiros passos no hipismo em Aveiro, motivo de grande satisfação e prazer.

A porta de entrada, uma porta verde em madeira que sempre me habituei a ver com uma tranca por dentro, era "emoldurada" por uma era trepadeira que subia pelas paredes e lhe davam um ar de enorme frescura e beleza enquadrada por arbustos podados ao logo de toda a frente da casa, estrategicamente colocadas em função das janelas que tinha.

Começando pela porta dupla de entrada da Capela, aquela que se situa mais acima da avenida, encontramos a seguir a janela da sacristia, que tinha ligação directa com a capela pelo seu interior, junto ao altar.
A duas janelas seguintes, eram da sala de jantar, uma sala enorme que a seu tempo, se conseguir e puder, darei mais detalhas.
A janela seguinte, à direita da porta de entrada, era a que dava luz para um corredor de acesso com ligação interior à Sala de espera e à referida anteriormente, Sala de Jantar.
Já à esquerda da porta de entrada, encontrava-mos a janela dessa Sala de Espera, ou "hall" de entrada.
As 2 janelas seguintes eram as da Sala de Visitas, ligada obviamente à Sala de Espera.



Ao lado, continuando a descer em direcção à eira, surge a janela do "Quarto do Bispo", cuja justificação para o nome será dado em lugar oportuno.


Na esquina seguinte, e na única zona da casa com mais de um andar virado para fora, encontava-
se na parte inferior, a janela do escritório que tinha acesso à enorme biblioteca, e na parte superior, uma janela de um quarto de dormir.



Era exactamente em frente a esta esquina, à janela do escritório onde muitas vezes o meu avô, por quem tenho enorme admiração e saudade, guardava as suas recordações mais íntimas e fazia a gestão da Quinta, que se encontrava o enorme, secular e majestoso Pinus silvestris (pinheiro de Riga) sob o qual, existia uma singela mesa em pedra que servia, muitas das vezes pequenos lanches nas tardes quentes de verão ou simplesmente para amenas conversas, umas vezes sérias outras, nem por isso.

sexta-feira, 16 de março de 2007

A CASA DE SAMAIÕES (I)


SAMAIÕES é uma freguesia com a área de 7,63 km2, 1 341 habitantes e 714 eleitores. É constituída pelas povoações de Samaiões, Isei, Outeiro Jusão e Raio X.
As aldeias produzem batata, vinho e azeite. O topónimo de Samaiões estará ligado à cultura céltica, à festividade do Sannhain, uma das quatro que esses povos celebravam.
A aldeia situa se numa planura e possui no seu centro a barroca Igreja paroquial dedicada à Senhora da Expectação também designada por Senhora do O, e relevante riqueza interior.
Foi aqui pároco, desde 1906 a 1934, o arqueólogo e historiador Padre Silvino da Nóbrega, autor de assinaláveis remodelações realizadas nesta Igreja. Outra capelinha a referir é a da devoção a S. Caetano, com o seu retábulo bonito mas degradado, que faz parte da Quinta de S. Caetano propriedade dos herdeiros da família Magalhães Sampaio Rodrigues. Ostenta o brasão da família e uma epígrafe de 1678.
A capelinha do Senhor dos Aflitos, situada nos arredores, é local de grande devoção, realizando se todos os anos no mês de Maio uma grande romaria a este templo. Samaiões é região de grandes quintas e casas e, a mais importante e bonita, é a Casa de Samaiões, solar com pedra de armas e capela da invocação da Senhora da Conceição do Ginzo e uma grande quinta com os convenientes equipamentos rurais.
Era, até há bem pouco tempo, da nobre família de Francisco de Barros Teixeira Homem, estando hoje adaptada a Hotel de Turismo Rural. A Casa de Samaiões hospedou durante largos períodos o pintor Alves Cardoso que se notabilizou pintando costumes e trechos da região flaviense.
Em Janeiro de 1930, fez uma visita ao seu grande amigo, o padre Silvino da Nóbrega, residente em Samaiões. De volta a Lisboa, não conseguiu vencer sua última batalha contra o mal que o atormentava, vindo a falecer em 10 de Março de 1930, dois meses antes de completar 48 anos de idade.
A escola do primeiro ciclo do ensino básico, situa-se num dos extremos da povoação e foi lá que eu estudei um ano, durante uma das vindas dos meus pais a Portugal. É frequentada por 7 alunos. No lugar do Eiró está situada a sede da Associação Recreativa e Desportiva de Samaiões.

Pastoria, aldeia com veiga muito fértil e com povoamento do período neolítico, possivelmente do III ou II milénio a.C, nos alcandorados montes da serra, que se ergue a poente da aldeia. É hoje uma importante estação arqueológica denominada Castro do Muro. Quando vieram os romanos fizeram a sua ocupação, encontrando se no local, onde está situado, vestígios das várias civilizações que o habitaram. O povoado do presente, evidencia, na arquitectura de muitas das suas casas, traços da distinção dum passado antigo de certo poder económico. Na história encontram se referências a cidadãos ligados a esta aldeia que se tornaram notáveis. É o caso de António Teixeira de Barros Araújo Lozada, tenente de cavalaria, fidalgo e cavaleiro da Casa Real, 9° Administrador do Morgadio de Nossa Senhora do Ginzo de Curalha, figura de relevo na luta contra as Invasões Francesas. É interessante referir que numa das casa, situadas no lugar do Cabo, existem duas inscrições epigráficas de bela e estranha simbologia interpretada como judaica, que poderá indicar que aí funcionou uma antiquíssima sinagoga, possivelmente do grupo dos edomitas. No pequeno largo da aldeia, de passado muito mais recente, situa se a pequena capela da devoção a S. Martinho, onde se destaca a beleza escultural da pia baptismal


Recuperando algumas passagens do livro de Maria Leonor Barros, sobre António de Barros, a Casa de Samaiões fica a pouca distância da serra do Brunheiro.


A sua mata apresenta várias espécies de árvores tais como: castanheiros da Índia, cedros, buxos, pinheiros de Riga, loureiros seculares de folha larga e régios.



Estes últimos distinguem-se dos outros pela folha ser mais pequena e darem flores minúsculas brancas em formas de cachinhos.

Um dos jardins possui canteiros de buxos cortados à francesa.

O outro jardim tem uma poética fonte de pedra e forma como um circulo rodeado por buxos de grande porte, com um laguinho ao meio.


Junto da casa há uma eira de pedra com lajes e um espigueiro de grandes dimensões.


Dali se vê boa parte da quinta, com os seus declives e pequenas elevações, que atinge uma vasta área.


Aqui e agora vem a propósito recordar que meu trisavô, o General Joaquim Ferreira Cabral Paes do Amaral (1770-1845), que como escreveu Maria Leonor, quando estava a treinar tropas no Campo da Roda, a cerca de 4 km. da Casa de Samaiões, ouvia-se a voz dele na eira.


Muito melhor se devia ter ouvido, na Batalha do Buçaco a sua ordem:


“Avança Cavalaria de Chaves com 600 mil diabos!”


Este meu trisavô era casado com Luísa Adelaide de Sousa Barros, que vivia naquela casa.



Esta já existia, virada a sul e poente, no século XVII e era, então nessa altura, seu proprietário o Pe. João Rodrigues Homem, Abade de Sta. Maria de Gouvães.






Contudo, “A parte nobre do solar foi edificada mais tarde, entre os séculos XVIII e XIX ficando virada a nascente e a norte”. *
* Roteiros de Chaves, Grupo Cultural Aquae Flaviae, pág. 250.


A capela dedicada a Nossa Senhora do Ginzo data do séc. XIX, foi transferida de Curalha para a Casa de Samaiões, depois da respectiva autorização do Bispo da Diocese, por volta de 1848.

Sobre a porta de entrada reza a seguinte inscrição:"MANDOU FAZER ESTA CAPELLA O CORONEL FRANCISCO DE BARROS TEIXEIRA HOMEM FIDALGO CAVALLEIRO DA CASA REAL 1Oº MORGADO DOS ARAUJOS E Hº DE NOS SA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO GINSO NA ERA DE MDCCCXLVIII"
(...) Pouco acima, foi colocado o brasão da família de grande simplicidade e significado. A terminar tem uma elegante cruz a fazer conjunto com dois pináculos que a ladeiam.
Mesmo de frente fica um soberbo Pinus silvestris (pinheiro de Riga) que parece orgulhoso de poder contar com a companhia do relógio de sol virado a sul e do velho espigueiro junto da eira lajeada e das fontes de pedra do Jardim.


Em noites de lua cheia, quando o silêncio facilmente se tomou seu cúmplice, dizem que cresce até às estrelas e espalha à sua volta uma ainda mais misteriosa sombra.”


(...) Como o Morgado Francisco de Barros Teixeira Homem morreu solteiro, sem filhos, instituiu um herdeiro universal, o seu segundo sobrinho Manuel de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem, filho de sua irmã Luisa Adelaide de Sousa Barros, casada com o General Joaquim Ferreira Cabral Paes do Amaral, da Casa de Baião”, * isto é, mais propriamente da Casa de Agrelos.

* Roteiros de Chaves, Grupo Cultural Aquae Flaviae, pág. 250.














quarta-feira, 14 de março de 2007

MARIA LEONOR DE BARROS




Maria de Barros (1887-1978)
Uma Transmontana Pelo Coração

Maria Leonor de Barros, a autora do livro, é sobrinha de Maria Amélia de Sousa Barros de Sande e Castro, a quem este livro é dedicado.


Maria de Barros, nascida a 10 de Novembro de 1887 na Foz do Douro, mudou-se muito cedo para a Casa de Samaiões, onde residiu uma parte da sua vida antes de se mudar novamente, em 1920, com sua mãe Maria Leonor Paes de Sande e Castro de Barros (1867-1955) para a Casa de Paradela onde vivia seu irmão, António de Sales Paes de Sande e Castro de Barros (1891-1973), casado com Helena Cecília Dora Wemans de Sande e Castro de Barros (1895-1975).

O pai de Maria Amélia de Sousa Barros de Sande e Castro, Manuel de Barros Ferreira Cabra! Teixeira Homem (1835-1916), era dono da Casa de Samaiões, que ficou para o seu filho mais velho, morgado, Francisco de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem (1889-1966), casado com Maria d’Assumpção d’A breu Castelo Branco, filha dos Condes de Fornos. Estes são os meus avós paternos que tive a enorme felicidade de os conhecer, pese embora ter nascido em Angola e lá ter vivido quase todo o período em que eles foram vivos
Os irmãos de Maria de Barros eram ambos formados em Coimbra:

  • António de Sales Pais de Sande e Castro de Barros em Filosofia
  • Francisco de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem em Direito

Neste livro, a autora, faz uma abordagem à história da época de forma a enquadrar a vida de Maria de Barros com a sua familia, com destaque para as primas, e as amigas antes de se referir à mensagem do seu testamento e à sua memória. Refere ainda a genealogia da família Barros e da família Paes de Sande e Castro. A parte final contém algumas fotografias de família e a História da Casa de Paradela, da Casa de Casas Novas e dos Brasões da Casa de Samaiões e da Casa de Paradela.

O PERFIL DE UM TRANSMONTANO

ANTÓNIO DE BARROS

Neste outro livro de Maria Leonor Barros, cuja capa é um quadro de António de Barros pintado a óleo pelo pintor naturalista Alves Cardoso, começa por fazer igualmente um resumo do contexto histórico da época.

Relata, por vezes de forma minuciosa, alguns pormenores da vida de António de Barros tanto na sua relação com o meio, como na sua relação com a família antes de terminar com uma fotobiografia e os anexos das genealogias, brasões e a História da Casa de Paradela.

António de Barros, era portanto, meu tio-avô paterno, irmão mais novo do meu avô Francisco e da Maria Amélia, a irmã mais velha. António de Sales Paes de Sande e Castro de Barros (1891-1973) nasceu a 25 de Maio de 1891, na Casa de Samaiões, em Chaves. Era filho de Manuel de Barros Ferreira Cabral Teixeira Homem (1833-1916) e de Maria Leonor Paes de Sande e Castro de Barros (1867-1955).

terça-feira, 13 de março de 2007

A LONGA ESPADA DE DREYFUS - Henrique Salles da Fonseca

Navegando ... por aí, foi com alguma emoção e uma felicidade imensa que encontrei no Blog de Henrique Salles da Fonseca, A Bem da Nação, uma referência ao meu avô Francisco de Barros Teixeira Homem que demonstra o trato exemplar na educação e na amizade com que sempre primou e transmitiu aos seus 8 filhos, o mais velho dos quais é o meu pai Manuel.
A ternura do diálogo que estabelece com o Sr. Padre Silvino e o encanto da confissão deste Monsenhor perante uma decisão tão difícil que envolvia um seu grande amigo, são um expoente grandioso da nobreza de sentimentos que à época existiam e que hoje em dia se perderam da forma mais rude e desprovida de qualquer sensibilidade.
De facto, só uma integridade de carácter como esta, é capaz de fazer com que a amizade saia incólume, primando sempre primeiro pelo amigo e só depois pensando em si próprio.
Muito grato a Henrique Salles da Fonseca, transcrevo esse momento ímpar de grande sentimento e valor pessoal:

Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2007
A LONGA ESPADA DE DREYFUS

- Que cara tão pesada trazeis hoje, Padre Silvino (1). Ou já ma tendes feito ou estais para ma fazer.
- Tendes razão, Senhor Barros (2), tendes razão; venho para vos falar de coisa muito séria. Já venho da quinta de cima onde tratei do mesmo com a Senhora vossa Mãe e agora é convosco que terei que me entender.
- Dizei, Padre, dizei.
- Venho a mando do Senhor Bispo para falar com todos os assinantes do “Action Française”.
- E que tem o jornal a ver com o Senhor Bispo?
- Bem sabeis que os escritos de Maurras foram catalogados no Index, Senhor Barros, bem sabeis. Já falámos sobre isso. Por certo não ides agora negar.
- Pois não nego, claro que sei dessa classificação.
Charles Maurras (1868 - 1952)
- Então, se sabeis, tereis que acabar com essa assinatura e destruir todos os exemplares que tendes guardados nos vossos arrumos.
- Mas, Padre Silvino, bem sabeis que aqui em Trás-os-montes estamos muito isolados, que não temos muita comunicação com o que se passa por esse mundo além. Ainda se estivéssemos no Porto ou em Vila Real . . . mas aqui em Chaves, o único modo de sabermos alguma coisa é pelos jornais.
- Mas tendes os jornais de Lisboa e do Porto que também assinais. Eles dão-vos as notícias de que dizeis carecer. Que mais quereis? Não vos bastam as notícias das cidades portuguesas?
- Queremos notícias lá de fora, do estrangeiro e bem sabeis que não havemos de assinar jornais jacobinos e hereges. Queremos artigos de opinião mais do que simples notícias. Essas, sim, chegam-nos as de Lisboa e do Porto. E a “Action Française” explica-nos muita coisa de que por cá nada se fala. Charles Maurras é de leitura muito interessante e faz-nos bem ler o que ele escreve.
- Pois sabei que Sua Santidade o papa Pio XI determinou que Charles Maurras e a “Action Française” não fossem mais lidos. São agora hereges e vós deveis cancelar a assinatura (3).
Pio XI (1857 - 1939)
- Padre Silvino, por vós o farei. Por vós!
- Não, Senhor Barros. Deveis fazê-lo por ordem do nosso Bispo; não por mim. Eu apenas obedeço e é isso que vós fareis também: obedecereis à Santa Madre Igreja!
- Mas Padre . . .
- Senhor Barros, bem sabeis o castigo que espera quem desobedece à Santa Madre Igreja.
- Sim, Padre Silvino, claro que sei, a excomunhão.
- Então, se sabeis, poupai-me a tal prejuízo como vosso amigo e Confessor.

Este diálogo aconteceu em Chaves nos finais de 1926 e teve tudo a ver com as discussões que envolveram o caso Dreyfus o qual claramente dividiu a França em dois campos irreconciliáveis e, como se pode ver, chegou bem dentro de outros países europeus, neste caso o nosso.
Tudo começou quando em 1894 Madame Bastian, empregada de limpezana Embaixada Alemã em Paris, descobriu uma carta suspeita no cesto do lixo do adido militar alemão, o Tenente-Coronel Schwarzkopfen. Madame Bastian entregou os papéis aos serviços secretos franceses que logo concluíram que existia um traidor entre os oficiais franceses a fazer espionagem para os alemães. Quando o caso se tornou conhecido, a carta passou a ser conhecida como "le bordereau" (o memorandum).
O caso Dreyfus centrou-se na condenação por traição de Alfred Dreyfus em 1894, um oficial de Artilharia judeu no exército francês. O crime foi enquadrado como alta traição e o acusado sofreu um processo conduzido a portas fechadas e que foi considerado fraudulento. Dreyfus era, afinal, inocente: a condenação baseava-se em documentos que se verificou mais tarde serem falsos e quando oficiais de alta patente franceses se aperceberam disso, tentaram ocultar o erro. A farsa foi acobertada por uma onda de nacionalismo e xenofobia que invadiu a Europa no final do século XIX. Dreyfus foi condenado a prisão perpétua na ilha do Diabo, na Costa da Guiana Francesa.
Demissão de Alfred Dreyfus com a simbólica quebra da espada
Em 1898, evidências da inocência de Dreyfus possibilitaram um segundo julgamento. A permanência da sentença anterior provocou a indignação de Émile Zola. O escritor expôs o escândalo em 13 de Janeiro de 1898 no L'Aurore numa famosa carta aberta ao Presidente da República, Félix Faure, intitulada J'accuse!: "Como poderias [tu, França] querer a verdade e a justiça, quando enxovalham a tal ponto todas as tuas virtudes lendárias?". Nas palavras de Barbara W. Tuchman foi "uma das grandes comoções da história". O caso Dreyfus foi notoriamente um processo de anti-semitismo em que muitos cantaram pelas ruas "Morte aos Judeus". Theodor Herzl e Zola partiram para o ataque denunciando os culpados da farsa.
A disputa entre os dreyfusards e os anti-dreyfusards foi particularmente violenta uma vez que envolvia vários assuntos no clima controverso e agitado de então. De certa forma, estas divisões seguiam a linha de demarcação entre uma direita apoiando frequentemente o retorno à monarquia e clericalismo – ou seja, o envolvimento da Igreja Católica Romana na política pública – e uma ala esquerda apoiando a República, muitas vezes com sentimentos anti-clericais. A virulência das paixões levantadas pelo caso deveu-se ao anti-semitismo. Em 1886 havia sido publicado o livro anti-semita de Edouard Drumont, "La France Juive". Maurras alinhou claramente pelos anti-dreyfusards e também por isso teve o apoio da direita política europeia chegando mesmo a ter uma clara influência sobre o pensamento de Salazar. Contudo, em França os intelectuais – professores, estudantes, artistas, escritores – subscreveram pedidos intercedendo por Dreyfus.
Nas manifestações que se faziam um pouco por toda a parte, uns gritavam "Vive Dreyfus! Vive Zola!" enquanto que do outro lado da barricada os gritos eram de "Vive l'Armée! Mort aux Juifs!". Sim, houve mortos e feridos.
Afinal, durante a revisão do processo que promoveu a reabilitação de Dreyfus (1906), provou-se que Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, Major do exército francês, fora o verdadeiro autor da carta que Madame Bastian encontrara no caixote do lixo na Embaixada alemã em Paris.
Passados anos e abertos novos campos de batalha, foi Maurras hostilizado (1926) pelo Vaticano dando-lhe a oportunidade de desabafar que se tratava da “vingança de Dreyfus”. Mas afinal, em 1938, o Vaticano recuaria nas hostilidades e os escritos de Maurras voltavam a ser permitidos aos leitores católicos.
Muitos anos mais tarde, falecido já o Senhor Barros, deram os seus herdeiros hospedaria ao venerando Padre Silvino, então já Monsenhor, que naquela casa veio a falecer com mais de 90 anos de idade. E foi um dos filhos do Senhor Barros, o meu amigo António Teixeira Homem, que lhe perguntou certa vez:
- Oh Senhor Padre Silvino. O que é que o Senhor teria feito se o meu Pai não tivesse cancelado a assinatura da “Action Française”?
- Oh Toni. Teria embarcado para o Brasil . . .

A isto chamo integridade de carácter. O Padre Silvino estragaria eventualmente a sua própria vida mas um amigo confesso não se excomunga!

Bem longa, esta espada de Dreyfus . . .


Lisboa, Fevereiro de 2007

Henrique Salles da Fonseca

(1) - Silvino Rodrigues da Nóbrega, Padre da Diocese de Vila Real, chegou a Monsenhor
(2) - Francisco de Barros Cabral Teixeira Homem
(3) - Charles Maurras era um católico que não pactuava com o “negócio eclesiástico, o que inspirou grande preocupação a uma parte da hierarquia católica que em 1926 levou o papa Pio XI a colocar os seus escritos no “Índex”; contudo, com a eleição do escritor em 1938 para a Academia Francesa, a proibição de leitura foi levantada

Bibliografia: Wikipédia (Dreyfus)

EX-LÍBRIS? O QUE É ISSO?


O que é um ex-libris?
A expressão latina "ex-libris" ou "ex-bibliotheca" significa "dos livros de.." ou "da biblioteca de...", ou ainda "livros dentre aqueles" pertencentes a determinada pessoa ou instituição. A denominação ex-libris não é apenas dada a etiquetas fixadas em livros, também são chamados de ex-libris toda a marca de posse feita em uma obra, quer seja o nome do possuidor por escrito, um sinal convencional, um símbolo, um brasão de armas, um monogramas ou uma sequência de iniciais, carimbos diversos e por fim, esta etiqueta isolada, que o possuidor da obra cola, em geral, à capa interna do livro encadernado ou numa das suas folhas de guarda .
O uso de marcas para identificar os livros remonta à antiguidade. Nas ruínas de Nínive, na Mesopotâmia, todas as placas de argila de um certo local eram identificadas pelo mesmo símbolo cuneiforme, o antepassado mais remoto conhecido das marcas usadas actualmente.
Como forma de etiqueta isolada, tem seu aparecimento na Alemanha, na mesma época da invenção da tipografia., por volta de 1450.
O primeiro exemplo de ex-libris impresso contendo uma gravura simbólica é o de Johannes Knabensberg, também conhecido como Hans Igler (João Ouriço), gravado em madeira por W.L. Schuberg, representando um ouriço de perfil comendo flores silvestres. Também entre os mais antigos encontra-se o ex-libris de Giorgis de Podebrady (1455) e o de Hildebrand Brandenburg (1470).
Em França, o ex-libris aparece em 1529, o ex-libris de Jena Bertaud de la Tour-Brlanchet, na Inglaterra o ex-libris do Cardeal Wolsey, por volta de 1530, na Holanda em 1597, em livros de Ana van de Aa, na Itália, por volta de 1622, na América seria o ex-libris de John Cotton em 1674 e o de John Willians em 1679, além do de Willian Pen.
No Brasil o movimento "exlibrista" vem de Portugal.
Segundo alguns pesquisadores o primeiro brasileiro a ultilizar-se dessa forma de marcar os livros foi Manoel de Abreu Guimarães, Provedor da Santa Casa de Sabará e possuidor de uma vasta biblioteca, informação essa que é contestada por Rubens Borba de Moraes em sua obra Livros e Bibliotecas no Brasil Colonial, onde ele diz ser o Padre José Correia da Silva, morador também de Sabará, dono do ex-libris mais antigo usado por um brasileiro


Como é um ex-libris?
É uma etiqueta impressa por qualquer meio mecânico - de gravura a impressão digital-, de forma e dimensões variadas, normalmente não ultrapassando um quarto de página. De preferência é executada em papel de qualidade extra, geralmente branco ou de cor clara e neutra, com a impressão em preto ou, mais raramente, em cores, sobretudo os heráldicos.
Traz o nome do proprietário e muitas vezes uma ilustração, com temas variados e frequentemente de grande beleza artística. Muitas vezes são encomendados a desenhistas; mais raramente, pelo próprio dono. A imagem representada revela muito da mentalidade de seu possuidor e até mesmo do ambiente, acusando os gostos e costumes de certa época, grupo social ou cultura.


Por que usar um ex-libris?
Todos os que mantêm uma certa quantidade de livros, por prazer ou por obrigação, sentem em algum momento a necessidade de identificá-los. A maneira mais primária de fazer isso é assinar o nome a caneta no frontispício, hábito que subsiste entre muitos possuidores de bibliotecas, mas que geralmente desvaloriza o livro, além de enfeá-lo. Outros modos, como carimbos de tinta ou pressão e marcas gravadas nas próprias encadernações, têm sido usados.
O primeiro aparece mais comummente nas bibliotecas públicas.
O segundo aparece em algumas bibliotecas particulares, mas tem um custo bastante elevado.
Dessa maneira, o ex-libris aparece como uma opção artística, sofisticada, elegante e de preço relativamente baixo para marcar os livros de uma biblioteca pessoal. Além de mostrar a quem pertence determinado livro, sua presença realça o volume pelo valor artístico e pessoal da etiqueta. Há mesmo pessoas que coleccionam ex-libris, ou livros que os contenham.
A colecção do Barão do Rio Branco ficou famosa em sua época.


Quais os tipos de ex-libris?
São quatro as categorias em que os estudiosos dividem os ex-libris:

1) Etiquetas: não trazem imagens além do nome do proprietário, muitas vezes acompanhado de ornamentos.
2) Armoriados ou heráldicos: quando o motivo principal do desenho consiste de brasões ou insígnias de indivíduos, cidades, associações etc.
3) Simbólicos: quando trazem imagens que traduzem ideias, lemas de vida, ocupações etc., que não tenham carácter heráldico.
4) Paisagísticos: quando reproduzem cenas rurais, urbanas, marinhas etc. ligadas afectivamente ao possuidor dos livros.
Há, ainda, os ex-libris mistos, que podem ser enquadrados em mais de uma categoria.


A maldição do ex-libris
"Nas bibliotecas das comunidades monásticas da Idade Média, as mais ricas da época, tomavam-se todas as precauções possíveis contra os piratas de livros. Até o século XIV, usavam-se armários fechados com portas, e as obras costumavam ter ex-libris com inscrições em que se ameaçava com a pena de excomunhão, não só aos que furtavam ou encobriam o furto, como àqueles que raspavam ou faziam desaparecer o ex-libris da obra roubada.
Quanto mais preciosa a obra, mais rigoroso o anátema.
Um livro do século XII, da abadia parisiense de Santa Genoveva, trazia por baixo do título a seguinte etiqueta, um dos mais antigos ex-libris que se conhecem: 'Este livro é de Santa Genoveva.
Quem quer que o furte, ou acoite, ou esta marca apague, excomungado seja!'. E quanto mais precioso o livro, mais grave a excomunhão. Em certo código do mosteiro de Marbaque, Alsácia - livro dos Evangelhos, numa encadernação que continha relíquias em suas pastas- a fórmula de excomunhão enchia meia página. O ladrão era votado, sucessivamente, a todos os tormentos do inferno, condenado a mergulhar em lagos ardentes de alcatrão e enxofre e a ter a sorte de Judas, o traidor, concluindo com a invocação: 'Fiat! Fiat! Fiat!', para dar mais peso à excomunhão fulminada."

(FRIEIRO, Eduardo: Os livros nossos amigos. São Paulo, Editora O Pensamento, 1957)