BOAS VINDAS

Benvindos a este espaço! Esta é uma página estritamente familiar, aberta a todos aqueles, familiares ou não, que de alguma forma queiram contribuir com o que sabem e conhecem ou simplesmente tenham meras curiosidades e questões que pretendam levantar. Tudo o que diga respeito ou se relacione com a família do meu pai ou da minha mãe, será sempre objecto da minha atenção.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

A MORTE DE GASPAR CASTELO BRANCO


Quem era Gaspar de Queirós de Abreu Castelo-Branco ?

Neto do 3º Conde de Fornos de Algodres, era o filho mais novo (9º) de Manuel de Abreu Castelo Branco, licenciado em Direito e Director Geral dos Serviços Prisionais do Ministério da Justiça em Portugal até ao dia 15 de Fevereiro de 1986, data em que foi barbaramente assassinado, em véspera da segunda volta das eleições presidenciais, pelo grupo terrorista de Otelo Saraiva de Carvalho, as FP25 de Abril, com dois tiros na nuca, em frente à sua casa. Foi, desde 1974, o mais alto cargo dirigente do Estado a ser vítima, em pleno exercício das suas funções, do mais brutal e cobarde acto que é o de ser assassinado pelas costas.
Em 1986, foi nomeado pelo então jornal "Semanário" como a figura nacional do ano de 1986.
Gaspar Castelo Branco era portanto, primo direito do meu pai, Manuel de Barros de Morais Lousada Teixeira Homem .
Recordo com imensa saudade os dias que passava em Luanda em casa da minha "tia" Maria Cláudia de Queirós de Abreu Castelo-Branco casada com o simpatiquíssimo e excelente pessoa que era o eng. civil, José Cândido Sirgado de Azevedo Mendes, irmã mais velha do Gaspar Castelo Branco.
Visitei também algumas vezes no Lobito Luis de Queirós de Abreu Castelo-Branco casado com Renée Rose Lahaye, que era o 3º irmão mais velho do Gaspar

Recuperemos então um pouco a história dos acontecimentos à volta deste hediondo crime.
Nessa altura, os terroristas das FP-25A, formada em 1980, por excesso de tolerância e decisão política, estavam em regime de cela aberta e misturados com presos de delito comum. Após a fuga de um grupo dos mais perigosos terroristas da Penitenciária de Lisboa, em 21 de Setembro de 1985, impôs medidas e condições duras de isolamento e separação entre reclusos. Estas eram contestadas pelos terroristas com uma pretensa “greve da fome”. Não cedeu.
“Em países ocidentais os governos não cedem às greves da fome e pouca importância lhes dão” dizia.

Mas por cá, era constantemente pressionado pela Comissão Parlamentar de Direitos Liberdades e Garantias, em particular por alguns deputados socialistas, bem como alguns movimentos cívicos de duvidosa parcialidade, mas que obtinham ainda assim algum eco na imprensa. Perante as críticas da comunicação social e dos ditos movimentos, o Ministro da tutela, Mário Raposo, declinava responsabilidades encaminhando-as para o seu director-geral, como se a orientação deste não fosse tomada de acordo com o próprio Ministro.
O culpado seria o Director-Geral.
Perante a demissão dos seus superiores hierárquicos e o silêncio imposto pelo governo, Gaspar Castelo-Branco assumiu as responsabilidades, que verdadeiramente não lhe cabiam, em circunstâncias particularmente difíceis. Só isso fazia sentido: por personalidade era um homem corajoso e frontal com um enorme sentido do dever e do bem público. Tornou-se o bode expiatório e pagou-o com a vida.
O Governo acobardou-se e quinze dias após o seu brutal assassinato, os presos retomaram a cela aberta durante o dia, apenas fechada durante a noite.

Conforme escreveu na altura José Miguel Júdice, parecia que afinal o assassinato teve uma justificação e uma razão de ser. A partir desse dia, o País apercebeu-se que o terrorismo era uma ameaça real.
Nos dias seguintes, Cavaco Silva, então primeiro-ministro, mudou-se com a família para a residência oficial em São Bento.
Todos os ministros, sem excepção, passaram a andar com guarda-costas e escoltados por vários seguranças pessoais. Os juízes e procuradores do processo FP-25A passaram a ser guardados dia e noite, pernoitando, às vezes, em locais alternados e sempre secretos.
Apesar disso o Presidente da República em exercício Ramalho Eanes ou o recém-eleito Mário Soares não estiveram presentes no enterro tal como faltou o primeiro-ministro Cavaco Silva.
Não houve um gesto visível de apoio público à vítima pelos seus superiores hierárquicos e membros dos órgãos de soberania.
Curiosamente, nesse mesmo mês, na vizinha Espanha, um agente da Guardia Civil era assassinado pela ETA. O seu funeral teve honras de estado e contou com a presença do primeiro ministro Felipe Gonzalez e do rei Juan Carlos.

“Se me derem um tiro, como reagirão os defensores dos direitos humanos, os mesmos que pretendem condições mais brandas para os terroristas?” -afirmava numa entrevista a um jornal 15 dias antes de morrer.
A verdade, é que a sua profecia se realizou e não houve um único acto de repúdio público aos ditos movimentos.

Em Outubro do mesmo ano começava o julgamento da organização.
O maior fracasso do Estado de Direito do Portugal democrático. Não conseguiu condenar quem contra ele atentou. Mário Soares, com uma visão muito própria sobre a justiça, preferiu primeiro indultar e depois amnistiar as FP-25A com total passividade do governo PSD.
A 6 de Fevereiro de 1996 defende e patrocina uma inaceitável amnistia no parlamento e a 1 de Março, é aprovada a amnistia ao grupo terrorista fp25, na Assembleia da República.
Preferiu cumprimentar Otelo Saraiva de Carvalho após a sua saída da prisão e RECUSOU uma legítima condecoração, proposta pelo governo, para o mais alto funcionário do Estado a cair no cumprimento do seu dever no Portugal democrático.
OTELO Saraiva de Carvalho foi condenado no Tribunal de Monsanto à pena de 15 anos de cadeia, no âmbito do processo FUP/FP-25. O julgamento, presidido por Adelino Salvado, terminou em Maio de 1987.

Para ele, as vítimas e as suas famílias eram um pormenor desagradável num processo que queria resolver politicamente.
O tempo pode atenuar a dor de um filho, mas não apaga a vergonha que o País sente por não ter sido feita justiça nem a imagem do nojo: os assassinos não cumpriram a pena, apesar de julgados (inicio a 7-10.1985) e condenados em tribunal, e as vítimas foram esquecidas.

Já ninguém se lembra de Gaspar Castelo Branco, o antigo director dos Serviços Prisionais, morto à porta de casa ?
EU LEMBRO-ME
Mas o ministério público e a Drª Maria José Morgado...NÃO



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9 comentários:

Genesis Charterhouse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Genesis Charterhouse disse...

Ola Francisco
Obrigado pela referencia ao meu pai através do meu post no Acidental.
Acabei de ler o seu blog, que descobri por mero acaso e finalmente percebi a historia da herança do Brasil. Ao menos sobrou-nos a Arvore Geneológica.
Um abraço
Manuel de Abreu Castelo-Branco

PS Acho que sem querer coloquei tb um comentário que estava em cache de um blog de uma amiga minha. Retire o por favor, pois eu não consegui.

MAT disse...

Caro Francisco, Nós não esqueçemos o nosso Tio Gaspar, irmão mais novo da minha mãe Assunção. Ainda em Junho a propósito das condecorações concedidas a tudo quanto é gente neste país eu enviei um mail à Presidencia da Républica a perguntar porque é que Gaspar Castelo Branco está esquecido há tanto tempo( embora, tenho a certeza que ele não quereria ser condecorado por "este" estado que tanto o maltratou. Responderam-me da Casa Civil a dizer que o Sr Presidente (que lembro era na altura o 1º Ministro e chefe directo do heroico Raposo)me responderia brevemente. Já lá vão tres meses e nada... assunto incómodo! Mas eu não vou desistir !
Um abraço
Manuel Assis Teixeira

Francisco disse...

Olá Manuel Castelo Branco

Embora não nos conhecessemos pessoalmente, o meu pai sempre falou de vocês com muito carinho e apreço, pois sempre tivemos uma relação muito estreita com a prima Maria Cláudia, desde os tempos de Luanda, que aliás é madrinha da minha irmã
Espero um dia poder poder dar-lhe pessoalmente um abraço fraterno

Francisco Teixeira Homem

Francisco disse...

Meu caro Manuel Assis Teixeira

De facto este hediondo caso incomoda aqueles que não foram capazes nem tiveram coragem de assumir as suas responsabilidades e levar o assunto até às ultimas consequências.
Acho muito importante que este assunto não seja esquecido e congratulo-mo por saber que tem batalhado, ainda que em lugar tão pantanoso como aquele em que se encontra essa corja (desculpa mas não há outro nome) de culpados e cobardes.
Estarei sempre solidário e disponível. Não desista.

Um abraço

Francisco Teixeira Homem

Anónimo disse...

Ol� Francisco
Tal,como os meua primos, descobri o seu blog por acaso.MAs ao contr�rio deles s� agora o encontrei,quando resolvi investigar na net as organiza�o Nildo Martini.Tinham-me dito que havia um s�tio em que se falava da heran�a do Brasil e..aqui est�.
Sou filha do Jos� Luiz,outro irm�o do Tio Gaspar,m�dico,que poder� ter conhecido nas suas idas a casa da Tia Maria Claudia durante a guerra colonial.
Tamb�m eu lhe quero agradecer as suas palavras sobre o Tio Gaspar e a injusti�a que rodeou a forma como a sua morte foi tratada pelo POder de ent�o.
Quanto � heran�a do brasil,li tudo o que escreveu e embora tivesse uma ideia do que se tinha passado fiquei completamnete esclarecida ao ler o que escreveu.
Finalmente quero felicit�-lo pela m�sica que escolheu para acompanhar o seu blog.
N�o querendo alongar me mais,quero que saiba que j� o adicionei aos meua faviritos e vou continur a segui-lo com muito interesse.
Maria Lu�sa de Abreu CAstelo-Branco

Anónimo disse...

Olá Luisa

De facto, se há momentos e oportunidades para gritar "até que a voz nos doa", este é um caso.
Não devemos, nem podemos, "ajudar" a que esqueçam o que aconteceu. Os culpados estão impunes mas a História os julgará. E tem de ser com legados que não deixem perpetuar a mentira hedionda e as "istórias" mal contadas, essas sim, verdadeiras vergonhas que deviam enojar os cobardes e oportunistas responsáveis por tudo o que se passou em Portugal e que ainda hoje são ... "iróis".
Tenho um carinho ENORME pela tia Maria Cláudia e a morte do Tio Zé Azevedo Mendes, foi uma tristeza enorme. Tão grande quanto aquela que o meu pai sentiu de forma inconsolável.
Tenho pena não ter mais tempo para o Blog, mas olhe, é uma forma de me ir fazendo alguma coisa quando tenho tempo livre. Não é muita nem grande coisa mas ... é o que se pode.
Obrigado pelas suas simpáticas referências

Inês Oliveira disse...

Olá,

Não sei se este blog ainda está activo e se ainda vê os comentários que aqui são deixados mas estou a escrever, acima de tudo, para agradecer..

Chamo-me Inês Oliveira e sou a filha mais velha da Pitecas, filha da minha avó Maria Cláudia Castelo Branco e do meu avô Zezinho Azevedo Mendes.

Foi com grande surpresa e alegria que descobri este blog e percebi um pouco melhor toda a história do tio Gaspar.

Os elogios à minha avó e ao meu avô foram um bónus. Vou imprimir tudo o que escreveu e mostrar à minha avó que ficará mais do que contente...

Muito, muito obrigado
Um beijinho
Inês

Francisco disse...

Olá Inês

De facto o blog está ... meio activo. Não tenho tido tempo nem oportunidade de cá vir como gostaria mas ... vou passando por cá até arranjar mais tempo e voltar a ele.

Mais do que uma surpresa, foi uma enorme alegria saber-te por aqui.

Os teus avós, pessoas adoráveis, sempre foram para mim uma enorme referência em muitas coisas e sei da dívida de gratidão que os meus pais tiveram para com eles. Sempre gostei muito deles. Fála à tua avó no Fiquico.

Às vezes lembro-me da tua mãe (mais ou menos a mesma idade que eu) e até me esqueço que todos vamos crescendo. Desde que saímos de Angola, nunca mais a vi, a ideia que tenho dela é a de uma adolescente ainda. Já viste a sorte dela?
Aliás, tenho ideia que apenas a tua tia Luisa, possa ter sido a única pessoa que vi por cá, em Portugal, mas isso ainda lá para finais dos anos setenta ... do século passado. :) :) :)
Aos anos.
Fico muito contente por vos saber "por aí" e pelos vistos com o mesmo espírito de família que "os patriarcas" sempre tiveram.

Beijinhos a todos, à Piteca, tua querida avó Cláudia e a todos os tio e tias que fores encontrando.

Para ti, obviamente, outro beijinho de agradecimento